domingo, 29 de setembro de 2019

A HISTÓRIA DOS VALDENSES
Por J. A. Wylie (1808-1890)
London: Cassell and Company, 1860

CAPÍTULO 9

A GRANDE CAMPANHA DE 1561


Missa ou extermínio — Pacto nos Vales — Seu Solene Juramento — Como os valdenses abjuraram Suas Energéticas Preparações — La Trinita avança seu Exército — Duas tentativas de entrar em Angrogna são repelidas — Uma Terceira Tentativa — Ataques em três pontos — Repelidas todas as Três  Destruído o Vale do Rora — Recebem reforços da França e Espanha— Inicia a sua terceira campanha — Seis homens contra um exército  Derrota completa — Extinção das Hostes de La Trinita — Paz
 
Estas punições terríveis a que os valdenses se submeteram, era na esperança de que os representantes que eles tinham enviado ao Duque trousessem de volta com eles uma paz honrosa. A impaciência com que esperavam seu retorno pode ser muito bem entendida. Finalmente, depois de seis semanas sem notícias, os representantes reapareceram nos vales, mas seus rostos desanimados, mesmo antes de terem dito uma palavra, mostravam que não tinham conseguido seu intento. Tinham sido enviados de volta com uma ordem: que os valdenses apresentassem incondicional submissão à Igreja de Roma sob a pena de serem  exterminados. Para impor a ordem ao extremo, um exército mais numeroso estava nesse momento sendo preparado. A missa ou extermínio, eram essas as alternativas agora apresentadas a eles.

Então o espírito do povo acordou. Ao invés de envergonhar seus antepassados, pondo assim em perigo as suas próprias almas, e implicando em uma herança de escravidão aos seus filhos, que iriam morrer mil vezes, sua depressão foi embora, pois eles haviam despertado de um profundo sono, tinham encontrado as suas armas. Sua primeira preocupação foi chamar de volta os seus pastores, a segunda, seus próximos para levantar suas igrejas caídas, e sua terceira, retomar os cultos públicos nelas. Diariamente sua coragem crescia, e a alegria, mais uma vez iluminava os seus rostos.

Houve cartas de simpatia e promessas de ajuda de seus companheiros protestantes de Genebra, Dauphine, e da França. Nos dois últimos países a perseguição naquela hora impedia, mas os seus próprios perigos fizeram com que todos se mobilizassem para socorrer seus irmãos dos Vales. "Então", diz um historiador, "aconteceu uma daquelas cenas grandiosas e solenes, que, ao mesmo tempo heróica e religiosa, parecem mais adaptadas para um poema épico do que para um momento grave da história" [Muston, p. 78].

Os valdenses de Lucerna enviaram representantes através das montanhas, cobertas então com uma grande quantidade de neve, para propor uma aliança com os crentes do Vale de Pragelas, que estavam naquele momento sendo ameaçados pelo seu soberano, Francisco I. A aliança proposta foi alegremente aceita. Reunidos em um platô coberto de neve de fronte a serra de Sestrieres, e a cadeia do Guinevert, os representantes juraram estar ao lado uns dos outros, e prestar apoio mútuo nas batalhas que estavam por vir [Monastier, p. 188. Muston, p. 78]. Foi acordado que este juramento de aliança deveria ser declarado publicamente com uma solenidade nos vales Valdenses.

Os representantes de Pragelas, atravessando o Monte Julien, chegaram a Bobbio em 21 de janeiro de 1561. Sua vinda foi singularmente oportuna. Na noite anterior, uma proclamação do ducado tinha sido publicada nos vales, ordenando aos valdenses, no prazo de 24 horas, comparecer a missa, ou arcar com as consequências - "espada, fogueira, forca: os três argumentos do catolicismo", diz Muston. Esta foi a primeira notícia com que os representantes de Pragelas encontraram em sua chegada. Com todo o entusiasmo eles renovaram o seu juramento. Subindo uma colina atrás de Bobbio, os representantes de Pragelas, e os de Lucerna, de pé no meio dos chefes de famílias reunidas, que ajoelharam-se ao redor, pronunciaram estas palavras:

"Em nome das Igrejas Valdenses dos Alpes, de Dauphine e do Piemonte, que sempre foram unidas, e das quais somos representantes, nós aqui prometemos, com as nossas mãos sobre nossas Bíblias, e na presença de Deus, que todos os nossos Vales devem corajosamente apoiar uns aos outros em matéria de religião, sem prejuízo da obediência devida a seus superiores legítimos.
Comprometemo-nos a manter a Bíblia toda, e sem adulteração, de acordo com o uso da verdadeira Igreja Apostólica, perseverando nesta santa religião, apesar de estar em perigo de nossas vidas, a fim de que a possamos transmitir aos nossos filhos, intacta e pura, tal como nós a recebemos de nossos pais.
Nós prometemos ajuda e socorro aos nossos irmãos perseguidos, não considerando nossos interesses individuais, mas a causa comum, e não dependendo de homem algum, mas de Deus" [Muston, p. 78-9].

A grandeza física do local onde se encontravam era de acordo com a sublimidade moral da transação. Imediatamente abaixo estava espalhada pelo seio verde do vale, aqui e ali, o orvalho como prata do Pelice brilhando entre vinhas e pomares de acácia. Preenchendo o horizonte por todos os lados salvo um, levanta-se um conjunto de magníficas montanhas, brancas com a neve do inverno. Destaca-se entre eles os grandes picos do Col de Malure e o Col de la Croix. Eles olhavam as testemunhas silenciosas e majestosas do juramento em que um povo heróico uniu-se para morrer em vez de permitir a contaminação de seus lares e a profanação de seus altares, pelas hordas de uma tirania idólatra. Foi desta forma grandiosa que os valdenses abriram uma das campanhas mais brilhantes já travadas por suas forças.

Na manhã seguinte, de acordo com a ordem do Duque, eles deviam escolher entre a missa e a pena anexada à recusa. Uma igreja da vizinhança – umas das que tinham sido tomadas deles, estava pronta, com altar enfeitado e velas acesas, para os valdenses ouvirem sua primeira missa. Mal o dia amanheceu, e os penitentes já estavam na porta da igreja. Eles mostrariam ao Duque a forma de sua retratação. Eles entraram no prédio. Por um momento ficaram examinando a estranha transformação que sua igreja tinha sofrido, e então começaram a trabalhar. Apagaram as velas, derubaram as imagens, e varreram para a rua o rosário e o crucifixo, e todos os outros apetrechos do culto papista, mas foi trabalho de alguns minutos. O ministro, Humbert Artus, em seguida, subiu ao púlpito e leu o texto de Isaías xlv-xx: "Congregai-vos, e vinde; chegai-vos juntos, os que escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar"; pregou um sermão que atingiu o ponto chave da campanha depois da sua abertura.

Os habitantes das aldeias e chalés nas montanhas desceram, como as torrentes inverno, em Lucerna, e reforçaram o exército valdense, purificando o templo em Villaro. No caminho eles encontraram a guarnição do Piemonte. Eles os atacaram e os expulsaram; os monges, senhores feudais e magistrados, que tinham vindo receber a abjuração dos "hereges", acompanharam as tropas em sua fuga vergonhosa. O bando inteiro de fugitivos, soldados, padres e juízes, encerraram-se na cidade de Villaro, que agora estava cercada pelos valdenses. Três vezes a guarnição de La Torre tentou levantar o cerco, três vezes e eles foram repelidos. Por fim, no décimo dia, a guarnição se rendeu, e tiveram suas vidas poupadas, dois pastores valdenses os acompanharam até La Torre, com os soldados expressando maior confiança neles do que em qualquer outro acompanhante.

O Conde La Trinita, vendo sua guarnição expulsa, deixou seu acampamento no Cavour, e deslocou seu exército para os vales. Ele novamente ensaiou semear a discórdia entre os valdenses para enredá-los nas negociações de paz, mas desta vez eles tinham aprendido muito bem o valor de suas promessas de dar a mínima atenção a elas, ou intermitente, fazer os preparativos para a defesa. Era agora o início de fevereiro de 1561.

Os valdenses trabalharam com o zelo de homens que sentem que sua causa é grande e justa, e estavam preparados para sacrificar tudo por ela. Eles ergueram barricadas, montaram emboscadas, criaram sinais, para telegrafar os movimentos do inimigo de posto a posto. "Cada casa", diz Muston, "tornou-se uma fabrica de lanças, balas e outras armas". Eles selecionaram os melhores atiradores que seus vales poderiam fornecer, e formaram a "Companhia Ligeira", cujo dever era correr até o ponto onde o perigo era mais iminente. Para cada corpo de combatentes eles acresciam dois pastores, para manter o moral de seu exército. Os pastores da manhã, tarde e noite, conduziam a devoção pública; rezavam com os soldados antes de ir para a batalha, quando a luta acabava, e quando os valdenses estavam perseguindo o inimigo nas suas grandes montanhas, e através de suas escuras gargantas, eles exortavam para impedir a vitória de ser manchada por qualquer derramamento inútil de sangue.

La Trinita sabia muito bem que se ele subjugasse os Vales, e sua campanha fosse bem sucedida, ele deveria tornar-se senhor de Pra del Tor. Em meio a essa vasta fortaleza natural estavam agora reunidos o corpo principal do povo valdense. Seus rebanhos e provisões que permaneceram com eles tinham sido transportados para lá, também nesse local moinhos e fornos tinham sido construídos; também estabeleceu-se o seu concílio, e dirigiu todas as operações de defesa. Porém um duro golpe os atingiu e iria esmagar o coração dos valdenses, e converter o que os valdenses consideravam como seu castelo inexpugnável em seu túmulo.

Adiando o castigo dos outros vales, entretanto, La Trinita dirigiu todos os seus esforços contra Angrogna. Sua primeira tentativa de entrar com o seu exército foi feita 4 de fevereiro. Os combates duraram até a noite, e terminou em sua repulsa. Sua segunda tentativa, três dias depois, o levou de uma forma considerável a entrar em parte de Angrogna, queimando e devastando, mas seu sucesso parcial custou caro, e a área que havia conquistado veio a ser depois abandonada [Monastier, p. 190. Muston, p. 80].
O dia 14 de fevereiro teve a luta mais difícil. Empregando toda a sua estratégia para tornar-se senhor do muito cobiçado Pra del Tor, com tudo nele, La Trinita dividiu seu exército em três companhias, e avançou a partir de três pontos. Umas das tropas, marchando ao longo dos desfiladeiros do Angrogna, e atravessando o abismo estreito que leva até Pra, atacou-o no sul. Outra companhia, escalando as alturas de Pramol, e cruzando os flancos nevados de La Vechera, tentou forçar a entrada a leste, enquanto um terceiro, subindo de San Martino, e cruzando os cumes elevados que formam a parede do Pra no norte, descera sobre ele a partir dessa parte. O conde estava confiante na expectativa de que se os seus homens não conseguissem forçar a entrada em um ponto, eles poderiam com certeza fazê-lo em outro.

Nenhum sentinela tinha dado aviso do que estava se aproximando. Enquanto três exércitos estavam marchando para atacá-los, os valdenses, em seu grande vale, com as suas muralhas de picos coroados de gelo, estavam envolvidos nas devoções matinais. De repente, os gritos dos fugitivos, e dos assaltantes, que saíam da fenda estreita no sul, rompeu aos seus ouvidos, junto com a fumaça da queima de suas aldeias. Dos três pontos de ataque, este foi o mais fácil de ser defendido. Seis corajosos jovens valdenses que caminhavam pelo vale pararam o avanço dos soldados de La Trinita. Foram seis contra um exército.

A estrada pela qual os soldados estavam avançando é longa e sombria, e coberta por grandes pedras, e tão estreita que só dois homens podem marchar lado a lado. Deste lado se ergue a montanha, do outro, no fundo, torrentes de águas como trovões, um ressalto na face íngreme do penhasco, correndo daqui para a escuridão, lá no sol, serve como um caminho. Isso leva ao que é chamado o portão de Pra. Essa passagem é formada por um ângulo da montanha, que se impõe sobre a borda estreita de um lado, enquanto uma enorme rocha sobe por outro lado, e torna ainda mais estreita o ponto de ingresso em Pra del Tor. Acessar a famosa Pra, do qual La Trinita estava agora se esforçando para tornar-se senhor, não havia como deste lado, salvo através desta estreita abertura, visto que na direita se ergue a montanha; na esquerda sai o abismo, no qual, se alguém pisa de lado, no mínimo, cai de cabeça. Para amigos e inimigos a entrada para o Pra del Tor é apenas a do sul, por este portão natural. Foi aqui que os seis guerreiros valdenses tomaram sua posição [Monastier, p. 191]. Imóveis, tais como os próprios Alpes, eles não só fizeram frente ao avanço do exército, mas levaram pânico em massa, o que fez os precipícios do desfiladeiro duplamente fatal.

Outros teriam se apressado em ajudar, se não houvesse subitamente um perigo se apresentando em outra parte. Nas alturas de La Vechera, atravessando a neve, foi vista uma tropa armada, fazendo sua entrada no vale, a leste. Antes que tivessem tempo de descer ela foi recebida pelos valdenses, que a dispersou e fez fugir. Duas partes do ataque do Conde falharam; a terceira terá melhor sucesso?

Como os valdenses estavam perseguindo o inimigo em La Vechera, viram outra tropa armada, que havia cruzado as montanhas que separam o Vale de San Martino de Pra del Tor no norte, descendo sobre eles. Imediatamente o alarme foi dado. Poucos homens puderam ir enfrentar os invasores. Estes leigos iriam emboscar na boca de um desfiladeiro através do qual os atacantes faziam o seu caminho para dentro de Pra. Emergindo do desfiladeiro, e olhando para o vale abaixo deles, exclamaram: "depressa, depressa! Angrogna é nosso". Os valdenses, porém, gritando: "Vocês é que são nossos", precipitando-se sobre eles de espadas na mão. Confiando em sua superioridade numérica, os soldados do Piemonte lutaram desesperadamente. Mas poucos minutos bastaram para os homens dos Vales se apressarem a partir dos pontos onde eles estavam agora vitoriosos, para ajudar seus irmãos. Os invasores, vendo-se atacados por todos os lados, viraram-se e fugiram pelas encostas que tinham acabado de descer. Muitos foram mortos, nem um homem deles cruzaria de volta as montanhas, mas para o pastor da Companhia Ligeira,  erguendo a voz num tom maior, suplicou aos perseguidores para poupar as vidas daqueles que já não eram capazes de resistir. Entre os mortos estava Charles Truchet, que tão cruelmente devastou a comunidade de Rioclaret alguns meses antes. Uma pedra de um bodoque o lançou prostrado no chão, e sua cabeça foi cortada com sua própria espada. Louis de Monteuil, outro perseguidor notável dos valdenses, morreu na mesma ação.

Furioso com a sua derrota, La Trinita voltou seu exército contra o quase indefeso Vale de Rora. Ele o devastou, queimando o seu pequeno povoado, e afugentando a população de oitenta famílias, que escapou sobre as neves das montanhas para Villaro, no Vale do Lucerna. Esse vale, ele entrou junto com seus soldados e, embora fosse no momento quase despovoado, o general papista recebeu uma recepção tão calorosa dos camponeses que ficaram que depois de ser repelido por três vezes, ele se viu forçado a retirar seus homens e se recolher para seu antigo quartel em Cavour, a pensar sobre seus infortúnios, e em novos estratagemas para seus planos de ataques, em que ele credulamente esperava recuperar a sua desgraça.

La Trinita passou um mês reforçando seu exército, muito enfraquecido pelas perdas que havia sofrido. O rei da França enviou dez companhias a pé, e alguns soldados escolhidos [Leger, Parte II., P. 36. Gilles, cap. 25.] Veio um regimento da Espanha e numerosos voluntários do Piemonte, incluindo muitos da nobreza. De 4000, o número original de seu exército, foi agora aumentado para 7000 [Ibid. Parte II,p. 37]. Ele se achou forte o suficiente para começar uma terceira campanha. Ele estava confiante que desta vez iria acabar com a desgraça que se abatera sobre seu exército e varrer da terra de uma vez e para sempre o grande escândalo dos valdenses. Ele novamente dirigiu todos os seus esforços contra Angrogna, o coração e o baluarte dos Vales.

Era domingo, 17 de março de 1561. Todos os valdenses reunidos em Pra del Tor tinham se encontrado na manhã daquele dia, logo depois da madrugada, como era seu costume, para se unirem na devoção pública. Os primeiros raios do sol nascente começavam a iluminar os montes brancos ao redor deles, e as cadências do seu último salmo da manhã foram sumindo nas encostas gramadas de Pra, quando um súbito alarme foi disparado. O inimigo estava se aproximando por três rotas. Sobre as cristas dos cumes orientais apareceu um grupo de homens armados, outra se deslocando até o abismo, e em poucos minutos, ia se espalhar, através do portal já descrito, em Pra, enquanto um terceiro foi escalando as rochas por um caminho intermediário entre os dois. Instantaneamente, o inimigo atingiu todos os pontos de abordagem. Um punhado de valdenses foi suficiente para empurrar de volta ao longo do estreito desfiladeiro a linha de homens com suas reluzentes armaduras. Em outros dois pontos, onde bastiões de rocha e terra que tinham sido erguidos, a luta foi intensa, e a quantidade de mortos era enorme, mas nesse dia, em ambos os locais foi contra os invasores. Alguns dos mais capazes capitães estavam entre os mortos. O número de soldados mortos era tão grande que o conde de La Trinita é dito ter sentado e chorado quando viu as pilhas de mortos [Muston, p. 83]. Foi motivo de espanto quando os valdenses não perseguiram os invasores, pois podiam ter feito, sendo muito mais familiarizados com os caminhos da montanha, assim todo o exército não teria sido deixado vivo para anunciarem sua derrota aos moradores do Piemonte. Seus pastores conteram os vitoriosos valdenses, tendo estabelecido como uma máxima no início da campanha que usariam de moderação e clemência, qualquer vitória que o "Deus das batalhas" quisesse ter o prazer de dar-lhes, eles derramariam o sangue somente quando absolutamente necessário para prevenir seu próprio de ser derramado. O número de mortos do lado piemontês era desproporcional a  qualquer número de quem caiu do outro lado, tanto assim, que atualmente, se diz que nas cidades do Piemonte que "Deus estava lutando pelos pastores" [Ibid. Monastier, p. 194].

Mais profundamente humilhado e desonrado do que nunca, La Trinita levou de volta os restos de seu exército para suas casernas. Teria sido melhor para ele se nunca tivesse posto os pés no território valdense, e não menos para muitos daqueles que o seguiam, incluindo alguns dos nobres do Piemonte, cujos ossos estavam agora clareando sobre as montanhas valdenses . Mas o general papista era lento para aprender a lição destes eventos. Mesmo assim, ele alimentou o projeto de voltar a atacar aquele vale fatal onde tinha perdido tantos louros, e enterrado tantos soldados, mas ele encobriu o seu propósito com astúcia. Negociações foram abertas entre os homens dos Vales e o Duque de Sabóia, e como elas estavam transcorrendo de forma satisfatória, os valdenses não tinham suspeitas de nenhum mal. Este foi o momento em que La Trinita escolheu para atacá-los. Ele apressadamente montou suas tropas, e durante a noite de 16 de abril, ele marchou contra Pra del Tor, esperando para entrar nele sem ter oposição, e dar os valdenses "como ovelhas para o matadouro".

A neve em todo o Pra estava começando a derreter pela luz da manhã, quando a atenção do povo, que tinha acabado de terminar sua adoração, foi atraída pelos sons incomuns que foram ouvidos do desfiladeiro que dava para o vale. No instante seis alpinistas corajosos correram para a porta que se abre a partir do desfiladeiro. A longa fila de soldados de La Trinita foi vista avançando em duas, lado a lado, os capacetes e couraças brilhando na luz. Os seis valdenses fizeram seus arranjos, com calma e esperaram até que o inimigo estivesse próximo. Os dois primeiros valdenses, segurando mosquetes carregados, ajoelharam-se. Os outros dois estavam de pé, prontos para disparar sobre as cabeças dos dois primeiros. Os outros dois ficaram para carregar as armas quando eram descarregadas. Os invasores se aproximaram. No que os dois primeiros inimigos chegaram ao seu alcance, foram abatidos pelos dois valdenses. Os dois próximos da força de ataque caíram na mesma maneira pelos tiros dos valdenses que estavam de pé. A terceira dupla de inimigos se apresentaram apenas para tombarem ao lado dos seus camaradas. Em poucos minutos, uma pequena pilha de cadáveres bloqueava a passagem, o que inviabilizava o avanço do do inimigo no abismo.

Enquanto isso, outros valdenses escalaram as montanhas que dominam o desfiladeiro em que o exército do Piemonte estava preso. Empurrando as grandes pedras com os quais a encosta estava cheia, os valdenses as lançaram sobre os inimigos. Impossibilitados de avançar a partir da parede de mortos a frente, e incapazes de fugir por causa da aglomeração por detrás, os soldados foram esmagados pela queda de dezenas de rochas. O pânico se estabeleceu: e pânico em tal situação era terrível. Firmados em conjunto sobre a borda estreita, com uma chuva assassina de pedras sobre eles, sua luta para escapar era medonha. Eles empurraram um ao outro, e pisavam com os pés uns aos outros, enquanto que um grande número caiu no precipício e caíram por terra sobre as pedras ou afogados na torrente [Leger, Parte II., P. 37. Muston, p. 85]. Quando os que estavam na entrada do vale, assistindo o resultado, viram a torrente cristalina do Angrogna começar a ser transformadas em sangue, "Ah!" disseram, "o Pra del Tor foi tomado, La Trinita triunfou, lá vem o sangue dos valdenses". E, de fato, o Conde no início da marcha, pela manhã, que se vangloriava que ao meio-dia a torrente do Angrogna iria mudar de cor, e assim, na verdade se fez. Em vez de um fluxo transparente, rolando sobre uma cama de cascalho branco, que é o seu aspecto habitual, na boca do vale, agora estava profundamente tingido pelo recente abate. Mas, quando os poucos que tinham escapado da catástrofe voltaram para dizer o que tinha ocorrido naquele dia dentro dos desfiladeiros de Angrogna, observou-se que não era o sangue dos valdenses, mas o sangue de seus cruéis invasores, que tingiu as águas do Angrogna. O Conde se retirou na mesma noite com o seu exército, que não voltou mais para os vales.

As negociações foram novamente retomadas, desta vez não através de La Trinita, mas por meio de Filipe de Sabóia, Conde de Raconis, e foram rapidamente levadas a um fim satisfatório. O Duque de Sabóia, teve pequeno mérito em fazer a paz com os homens a quem ele descobriu que não poderia vencer. A capitulação foi assinada em 5 de junho de 1561 e sua cláusula primeira concedia uma indenização por todos os crimes. Interessante observar que essa indenização foi dada para aqueles que haviam sofrido, não para aqueles que cometeram os delitos e que consentiram com eles. Os artigos que se seguiram permitiram aos valdenses erguer igrejas em seus vales, com exceção de duas ou três das suas cidades, e realizar o culto público, em suma, celebrar todos os ofícios de sua religião. Todas as "antigas imunidades, isenções e privilégios, se concedidos por Sua Alteza, ou pelos antecessores da Alteza", foram prorrogadas, desde que fossem comprovadas por documentos públicos [os artigos da capitulação são dadas na íntegra em: Leger, Parte II., p. 38-40]. O arranjo desse acordo encerrou a guerra de quinze meses. Os valdenses atribuíram em grande parte, à influência da bondosa Duquesa Margaret. O Papa chamou isso de "um exemplo pernicioso", pois ele temia que a ação de outros imitadores, pois naqueles momentos o amor de muitos pela Sé Romana poderia esfriar. O fato de os "hereges" terem sido premiados causava asco nos prelados e monges do Piemonte como mal cheiro entrando nas narinas. No entanto, o Duque Emanuel Filiberto manteve fidelidade as suas disposições, com a Duquesa ao seu lado para neutralizar qualquer pressão no sentido contrário. Esta paz, juntamente com o verão que agora chegara, começou lentamente a apagar as profundas cicatrizes da perseguição que haviam deixado nos vales, e o que ajudou a consolar e reanimar este povo valente, mas aflito, foi a simpatia e ajuda universalmente ofertadas pelos protestantes no estrangeiro, em particular através de Calvino e de Palatino, dirigindo uma carta ao Duque em nome de seus súditos perseguidos [Leger, Parte II., p. 41].

Nada era mais admirável do que o espírito de devoção que os valdenses exibiram durante todos estes terríveis conflitos. Seus vales ressoaram não menos com a voz de oração e louvor do que com o fragor das armas. Seus adversários vieram de orgias, blasfêmias, assassinatos, para entrar em batalha, os valdenses se levantaram de seus joelhos para desembainhar a espada e empunhá-la em uma causa que acreditavam ser a daquele a quem tinham se dobrado em súplica . Quando seu pequeno exército foi a campo seus pastores sempre os acompanhavam para animar os soldados por exortações apropriadas antes de se juntar a batalha, e moderar na hora da vitória de uma vingança que, no entanto desculpável, ainda teria manchado a glória do triunfo. Quando os guerreiros se apressavam para o bastião ou desfiladeiro, os pastores se refugiavam na encosta da montanha, ou no seu cume, e com as mãos erguidas suplicavam a ajuda do "Senhor, forte e poderoso, o Senhor poderoso na batalha". Quando a batalha cessava, e os inimigos estavam em fuga, e os vencedores tinham voltado de perseguir os invasores de seus vales, o pastor de cabelos grisalhos, o homem de coração de leão da batalha, a matrona, a moça, o rapaz, e a criança, se reuniam em Pra del Tor, e enquanto o sol estava descendo nas gloriosas montanhas de suas terras mais uma vez resgatadas, eles levantam suas vozes juntos, e cantavam a velha canção de guerra de Judá, em esforço tão heróico que as grandes rochas à sua volta devolveriam o trovão do seu louvor no eco mais alto do que os da batalha, cujo tema triunfante eles estavam comemorando.



Traduzido por Edimilson de Deus Teixeira
Fonte:  Providence Baptist Ministries

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A VISÃO DE EZEQUIEL DA GLÓRIA DE DEUS E OS QUERUBINS

  David Cloud - Way of Life Literature Ezequiel 1 Ezequiel contemplou uma das cenas mais incríveis e maravilhosas que um homem já viu. E...